quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Mudei sim, e isso não é mal algum

Recentemente, ao tratar de alguns posicionamentos políticos ouvi a seguinte frase "espero que você não tenha mudado tanto ao ponto de.." . Essa frase me gerou uma necessidade de responder sim, eu mudei! Minhas essências estão aqui, meus valores. Mas tudo aquilo que era apenas uma sombra lançada sobre mim de opiniões e perspectivas alheias deram lugar ao que eu realmente sou.



Religião

Criada em igreja evangélica desde o berço, foi no seio cristão que eu obtive toda a minha formação. Aprendi o valor da oração, o temor a Deus, a dedicação na leitura bíblica e no respeito ao próximo.
No entanto, infelizmente, esses valores aprendi muito mais em casa do que na igreja. Tive líderes maravilhosos, que me deram todo suporte e apoio nos primeiros passos da vida cristã. Sem falar nas experiencias com arte.
Mas havia um ranço de ideias e costumes que não vieram do cristianismo genuíno, mas de séculos de modelagem mental realizada pelos antigos fundadores da denominação a qual eu pertencia que foram sendo disseminados ao longo dos anos. Tradições e ideias humanas que ao longo do tempo pude perceber que eram mais nocivas que sadias.
Hoje eu não me considero mais evangélica, mas sim cristã protestante. Gosto de ler sobre a teologia reformada (que relembra os primeiros reformadores) e estar atenta ao que a Biblia diz. E cada vez mais vejo o quão cega estava em tantas questões. Havia muito misticismo e emoção em mim e faltava conhecimento da Verdade.
Então, muitas coisas que eu achava certas hoje vejo que não são e vice e versa. Não estou falando aqui dos verdadeiros e inegociáveis princípios bíblicos, aquilo que o próprio Jesus e seus apóstolos ensinaram. Nada do que está contido na Biblia mudou. Mas graças a Deus os ensinamentos fora de contexto e tendenciosos que tive foram pro lixo e hoje enxergo muito melhor. Na verdade, cada dia mais percebo que tenho muito a aprender.

Política

Não tinha nenhum posicionamento político até uns 10 a 8 anos atrás. Quando tocavam nesse assunto eu dizia "não entendo de politica" e nem discutia o assunto. Com a era da internet e as novas ondas de resseção e manifestações, escândalos e todo o cenário que tem se instaurado no Brasil e no mundo, fui aos poucos vendo que era importante ter um posicionamento. Sempre amei votar, me considero patriota desde sempre (bem antes de virar modinha) e defensora da cidadania e do meio ambiente. Cheguei a me associar ao Green Peace um tempo atrás. Mas quando ia me posicionar sobre "lados" ficava um pouco perdida, porque eu tinha muito pouca informação. Tinha amigos de um lado e amigos de outro. Familiares e até mesmo na igreja também tinham suas ideias e eu recebia a todas. No início da "era bolsonaro" (quando ele nem sonhava em ser presidente, ou apenas sonhava, vai saber) eu até concordava com o que ele dizia, porque na verdade eu mesma nunca havia parado para ouví-lo na íntegra. Da mesma forma sobre os posicionamentos da esquerda. Desde de antes da Dilma se eleger, lembro-me bem de ser induzida pelos pastores da minha igreja a não votar nela pois era alguma coisa muito ruim do demônio, juntamente com Temer.
Os assuntos críticos como aborto, ideologia de gênero, casamento homoafetivo e liberação da maconha eram o foco dessas discussões e geravam em mim (e creio que em muita gente) uma sensação de que o PT e seus aliados eram a própria personificação do diabo e que a igreja iria sofrer perseguições ferrenhas caso os tais continuassem no poder.
Pois bem, a Dilma venceu e foi aí que eu comecei a me "mexer na cadeira" e a questionar melhor as coisas. Surgiu a onda do #foraTemer e do golpe e eu ainda assumia a postura de ser a favor destes, ainda que em dúvida se o impeachment realmente deveria ocorrer.
Nosso país passava por tanta coisa, mais essa não seria legal. A tão falada estabilidade econômica iria pro ralo mais uma vez. E com toda a enxurrada de denúncias  de corrupções tento o PT como principal protagonista gerava ainda mais repulsa pela estrela solitária.
Eu dizia ser "centro-direita", quando finalmente assumi uma posição política declarada. Mas então a Dilma foi destituída com uma passada de mão na cabeça, deixando claro que era tudo uma grande encenação. Até que surgiram as questões sobre ditadura, "falsos heróis", mimi.. e eu no início (sim, confesso), até concordava, mas de novo porque eu mesma não tinha parado pra refletir sobre. Até que comecei a ler mais sobre isso, a questionar e a orar, sim, orar por sabedoria pois sentia que as coisas vinham se apertando cada dia mais. Uma espécie de angustia inquietava meu coração.
Perguntava aos mais velhos sobre a época da ditadura, e todos que diziam que era bom na verdade não tinham muita informação também. Eles viam o que passava na televisão e se recordavam mais do Pelé do que da censura. Aquela adoração pelos militares e pelo serviço público pairava na maioria dos olhares.
Então comecei a ouvir o outro lado, a assistir aos debates e vídeos de todos. Quando Bolsonaro anunciou a presidência eu logo não achei por bem me posicionar, pois nunca o vi como um candidato a presidência. E aos poucos fui observando como as pessoas, principalmente evangélicas, foram formando nele um ideal de liderança e "salvação" da ameaça comunista.
E foi justamente isso tudo que me fez aprofundar ainda mais nos meus questionamentos, estudos e reflexões. Sem falar em muitas publicações ofensivas que via dos de direita para com os de esquerda e vice e versa, que me faziam perceber que havia algo errado acontecendo.
Até que em 2018, em um dos períodos eleitorais mais tensos que nosso país já teve, me posicionei como centro-esquerda e optei pela Marina Silva. O que mais me impressionou foi como as pessoas ficaram chocadas! Elas achavam que por ser eu uma cristã assumidamente séria, não votar em Bolsonaro era algo incompreensível. As vezes a pressão era tanta que parecia que eu estava negando a Cristo ao não fazê-lo.
Mas eu não estava sozinha, muitos dos meus amigos cristãos e de esquerda, alguns já bem mais convictos que eu, se sentiam assim. Foi um longo processo de paciência e perseverança até que no final de outubro de 2018 tivemos o resultado das eleições.
Chorei. Chorei quando vi a oração na posse. E não foi de emoção. Fui tomada por uma tristeza e uma sensação de desolação que não sei explicar. Também não fui a única.
Vi muitos zombando dessa reação que tivemos, mas eu sei que algo em meu espírito nunca mais foi o mesmo. Inconformismo e despertamento invadiram meu ser de forma que optei por não me calar diante das situações em que todos acham que tá legal. E tendo 2019 passado (ou está passando) vi que estava certa e passo a entender cada dia mais esse sentimento.

Protestante

Hoje vejo que minhas mudanças religiosa e política estavam intimamente ligadas. Vejo líderes religiosos esbravejando contra as "ideias comunistas da esquerda" enquanto suas igrejas estão cheias de imundície. Cada vez mais vemos casos de suicídio de pastores, casos de adultério, drogas e problemas conjugais na tal "família tradicional" que vive de aparências. Cada dia mais os cristãos deixam de pregar o evangelho para pregar suas ideias políticas e a conclusão que cheguei é que o Planalto reflete o Púlpito.
Meu choro foi pela nuvem negra que se instauraria na mente das pessoas que não enxergam que o fim está próximo e que somente o amor e Deus pode limpar o homem. Ideologias não se combatem com proibições, pecado não se combate criando leis humanas. Até porque todos nós pecamos e destituídos estávamos da glória de Deus e somente por meio de Cristo podemos ter seres humanos transformados. Esse deve ser o principal foco do cristão.

Arte

Sempre cantei, escrevi, gostava de dançar, ler, criar. Mas nesses últimos anos também pude experimentar uma dose mais ousada de arte. Pude me rever e repensar como artista e do real sentido de se viver e fazer arte. Vencendo minhas inseguranças, avancei e me desbravei enquanto Deus tem aberto as portas. Passei a me importar menos com o que as pessoas esperavam de mim e mais com o que Deus me chamou pra fazer. Me libertei de estereótipos e títulos inventados pra mim e hoje também sou uma artista melhor definida. Sei quem sou, pra que eu vim e aos poucos, Deus tem me mostrado onde preciso fluir.

Sim, eu mudei. E isso não é ruim. Porque mudar faz parte de um processo de reflexão e auto conhecimento. As vezes o próprio resgate de suas verdadeiras essências e raízes te fazem mudar e passar a ser mais autentico e seguro de suas convicções.
De fato, descobri que quando o processo de mudança é guiado pelo Espírito Santo, o que ocorre é uma volta ao modo original, aquilo que Deus te criou pra ser, antes que os outros e a vida te moldassem, rotulassem ou influenciassem.

Fica o que é Dele e vai embora o que é nosso. Mudar para ser quem realmente devo ser em Deus.

byPIU