quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Desabafo de um profissional de TI


Hoje eu vou contar a minha história. Será em modo desabafo, mas tenho certeza que você irá se identificar em algum ponto. 






Tenho 33 anos e fui enganada dizendo que TI dava dinheiro e era legal. Fiz curso técnico, bacharelado, duas pós graduações profissionalizantes e não obtive até hoje, nem metade do retorno pelo que investi em minha carreira. Me mudei de cidade, moro longe da família, passei trancos e barrancos e hoje ainda me dizem que preciso ter certificação A, B e C, fazer o curso de coaching D, aprender as mil e uma novas tendências tecnológicas do mercado, estar pronto pra ser flexível e adaptavel (o que muitas vezes significa jogar no lixo tudo o que aprendeu nos cursos caros que fez, e toda boa prática que adquiriu) e ainda sorrir sempre! Porque o profissional, além de tudo isso tem que ser emocionalmente estável, atender às expectativas e cumprir o horário, quem sabe até trabalhar doente.

Lembro que meu pai dizia "filha estude para ter uma vida melhor que a minha, pra não precisar ficar debaixo de sol". Sim, meu pai, marceneiro, formado até a terceira série do fundamental, deu a vida dele pra que eu hoje pudesse ter sucesso e conforto oriundos do meu estudo e trabalho. Triste é quando ele me diz que em uma empreitada de um mês, ganhava 3 vezes o que eu ganho em quatro. E que apesar de todo esforço eu nunca pude ainda retribuí-lo por tudo. 

Seria cômico se não fosse trágico, ter inglês avançado, curso no exterior, e ainda ver tantas vagas pedindo tanto pra pagar tão pouco. É lamentável o profissional de informática brasileiro ser tão desvalorizado e ter virado um objeto de marketing para as universidades, institutos e afins. Lamentável e inacreditável como aumento de salário parece favor, benefícios viraram cala boca e cursinhos uma mina de ouro. Pagar mais do que eu pago num aluguel ou a metade do meu salário num curso de 8 horas é inaceitävel. Vou suar pra pagar, ficar toda empolgada, preencher meu linked in com mais um novo certificado que será esquecido ou simplesmente usado para a empresa, que porventura me contrate, como um plus nos seus contratos com cliente, mas jamais será aplicado. Ou pior, será até mesmo desmerecido no dia a dia do trabalho. E o dinheiro que você gastou nem será levado em conta quando você responder a fatítica pergunta do RH "qual a tua pretensão salarial". Serio, se tivesse esse dinheiro eu ia viajar!

Eu faço parte da geração pre resseção que sonhou com a profissão do futuro, acreditou e investiu em si mesmo mas que hoje se vê estagnada sem ter pra onde avançar. Geração Y que parece ter chegado no fim da reta, cansada de tanta exigência e pouco reconhecimento. Não queremos depender do ticket nem de vale fitness. Não quero ganhar tão pouco que, se não forem os benefícios não poderei fazer atividades "extras". 

Meu desabafo é de uma profissional que ta cansada de ouvir que a empresa ta crescendo mas eu não. Que a crise é sempre desculpa pra não melhorar o piso salarial dos funcionários, mas exigem que nos tornemos cada vez mais atualizados gastando rio de dinheiro em cursos, tendo que estar apto pra segurar qualquer rojão, representar bem a empresa, independentemente de seu estado psicológico ou físico. 

Empresas de TI, as que deveriam ser as mais humanas. Sim, porque é pra isso que a tecnologia existe, para atender às necessidades humanas. Mas são elas as que menos os valorizam, menos os apoiam e mais os deixam morrer de desmotivação e stress, sem se preocupar se de fato estä sendo entregue qualidade. Gosto demais do que estudei e do que faço. Tenho muito a contribuir a qualquer empresa que eu for e muito a aprender. Mas infelizmente, às vezes me pego repetindo a frase que ouvia de alguns colegas mais velhos da área: eu devia ter feito medicina. 

BY prisvieira
Foto: instagram do Mark Rufalo.


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